Antes de iniciar essa abordagem com a sua criança, que tal aprender como usar a Disciplina Positiva em você? Há vários recursos para todas as idades
Você já reparou que a maneira como reage ao comportamento do seu filho tem muito mais relação com a sua história, com quem você é, do que com a criança? É como aquela ideia de que se você quer mudar o outro deve começar mudando a si mesmo, sabe? E é por isso que neste texto vamos falar sobre como usar a Disciplina Positiva em você, adulto.
“Antes de querer mudar o comportamento da sua criança, precisamos pensar em mudar a nossa relação com nós mesmos. Isso porque a nossa relação é muitas vezes cheia de vícios, é desrespeitosa e autopunitiva. E, se estamos nos propondo a mudar a relação com nossos filhos, por que não mudar a nossa relação com nós mesmos?”, explica Tamira Viana, autora do curso Entendendo o Comportamento da Criança.
Para isso, Tamira sugere que os pilares da Disciplina Positiva sejam utilizados não apenas com as crianças, mas também – e antes de tudo – com o adulto que as cerca.
Como usar os pilares da Disciplina Positiva com o adulto
Respeito
Essa abordagem se baseia em respeitar a criança. “Mas, será que nós mesmos estamos nos respeitando? A gente respeita os próprios limites? Respeita o nosso corpo? Autorrespeito é modelo para a criança”, orienta Tamira.
Não punição
“Quantas vezes temos pensamentos autopunitivos? Ou comemos demais, ou de menos, ou nos entregamos a vícios? Pense bem em quais momentos você está se punindo e lembre-se que a punição não disciplina e não motiva. Enquanto que a educação tradicional introduz a necessidade de punição, a Disciplina Positiva vem para romper isso”.
Encorajamento
Um dos grandes pilares dessa abordagem é focar no esforço e não na pessoa em si. Por exemplo, em vez de dizer “Você é inteligente!”, o melhor é trocar por “Nossa, como você se esforçou!”. Portanto, faça esse exercício também com você. Mesmo naqueles dias em que acha que derrapou na missão de ser uma mãe ou um pai melhor, observe os esforços que você vem fazendo e mantenha-se no caminho.
Controle interno do comportamento e não externo
Quando usamos essa ideia com as crianças, o objetivo é que elas tenham uma consciência interna e, a partir dela, escolham o melhor comportamento. E não que isso precise ser feito pelo controle externo, em que seu filho age guiado pelo medo da punição ou querendo uma recompensa.
Dessa forma, também podemos usar esse recurso em nós mesmos. Por exemplo, pense naquele momento em que seu filho faz uma “birra” na frente de outras pessoas e você toma uma atitude exagerada ou até mesmo equivocada apenas para atender à expectativa de quem está olhando.
“Quando eu faço ou deixo de fazer algo é uma motivação interna ou externa? Ou é uma interna que eu introjetei a partir do que eu vivi na infância? O que me move? O que controla o meu comportamento com o meu filho? Ajo porque tenho medo do que os outros vão falar?”, questiona Tamira.
Tempo positivo
Sabe o cantinho da calma? É aquele espaço que criamos em casa, com a ajuda da criança, em que ela pode ir para se acalmar, sem imposição e bem diferente do cantinho do pensamento? Então, você também pode fazer uso desse recurso.
“Podemos criar o nosso próprio cantinho da calma ou usar o da criança e utilizar esse tempo para você se conectar, se acalmar e não resolver as coisas no calor da emoção. Além disso, é um excelente modelo para as crianças também”, explica.
Recursos para a autorregulação
Na Disciplina Positiva ensinamos para a criança alguns recursos para que ela possa utilizar quando a raiva chegar. Por exemplo, respirar fundo, tomar um copo de água, se afastar, bater em uma almofada. Portanto, a dica aqui é que você crie os seus recursos próprios, que podem ser os mesmos das crianças, ou algum novo, como um bola antiestresse. Descubra algo que te ajude a se acalmar e aí, só depois, com os ânimos controlados, é hora de conversar com a criança sobre o “mau comportamento”.
Compreender o cérebro e os nossos padrões
Para aprender a lidar com algo ou alguém, nada melhor do que conhecê-lo, não é verdade? E esse é o mesmo princípio desse pilar. Precisamos, portanto, compreender o cérebro e os nossos padrões.
“Quando a gente está tomado por emoções intensas, o cérebro primitivo toma conta e só restam duas opções: lutar ou fugir. Por isso, temos reações desproporcionais. Nesse momento, o cérebro ativa esse modo de sobrevivência ou o sistema límbico, que acessa registros antigos, de vivências primitivas. Então, quando compreende o cérebro e você sabe o que vai acontecer, você cria recursos para evitar reações descontroladas”, orienta Tamira.
Sinais não verbais
Este é mais um recurso que funciona tanto com crianças quanto com adultos. Para isso, basta você combinar um sinal com o seu marido ou o seu filho para ser utilizado naquelas situações em que alguém está perdendo o controle ou até mesmo para coisas do dia a dia, como quando a criança esquece de arrumar a cama.
“Por exemplo, combine com o marido de encostar na sua mão quando ele perceber que você está entrando no modo de perder o controle. Combine com seu filho um sinal para quando ele esquecer de arrumar a cama etc. Temos a tendência de jogar nosso descontrole em cima da criança, mas nos esquecemos que elas são o elo frágil da relação”, sugere.
Validar os próprios sentimentos e acolher a criança anterior
Antes de mais nada, tenha em mente que todos os sentimentos são válidos e que precisamos apenas aprender a lidar com eles.
“Se eu estou com raiva, eu paro e reconheço essa raiva. Não tem problema sentir. Todo sentimento é possível, mas nem todo comportamento é”, e isso vale tanto para adultos quanto para crianças. Só precisamos entender como agir quando esses sentimentos surgem.
Acolher a criança interior
Você sabia que muito da forma como agimos hoje tem relação com emoções e dores sentidas na infância? Sim, e as situações do cotidiano acabam por despertar esses sentimentos. Por isso, você precisa acolher a sua criança interior, imaginá-la e conversar com ela como se estivesse na sua frente.
“‘Eu entendo o que você está sentindo, dói mesmo. Quer um abraço?’. A dor precisa ser vista, ouvida, para descansar. Quando você consegue olhar a sua dor e tratar dela, você não a joga para cima de ninguém”.
Confiar na capacidade da criança
E, por fim, precisamos confiar na capacidade da criança, confiar que ela faz o melhor, que tem a melhor das intenções. E o mesmo vale para nós, adultos. Nós fazemos o melhor que podemos com a consciência e o conhecimento que temos no momento. E isso faz parte do crescimento.
Mais dicas para você, mãe e pai
- Tenha momentos especiais com quem você ama. Se sentir conectado, especial, importante é essencial para todos nós, crianças e adultos.
- Crie conexão com seu filho. Conexão é calmante para adultos também.
- Nós agimos melhor quando nos sentimos melhor (o que te faz bem?)
- Preste atenção em você. Quais são os seus gatilhos? O que te tira do eixo? O que te põe no eixo novamente? Quais são os seus pontos de dor?
- Seja gentil com você. Estamos todos aprendendo. Estamos todos em processo.
- Escute a si mesmo, o seu corpo. Escute as palavras que saem da sua boca.
- Desenvolva o senso de humor. Humor faz bem pra família toda. Melhora o dia a dia e torna tudo mais leve.
- Foque em soluções para a sua vida. Nada de achar culpados, de apontar erros.
- Pratique o que você quer desenvolver. Pratique a educação respeitosa.
- Celebre os pequenos passos. Lembre-se: é um passo de cada vez. Olhe para trás e veja o quanto já caminhou!
- Reconheça o que você tem de bom.
- Encare os seus erros como excelentes oportunidades de aprendizado.
- Empodere-se, conviva com pessoas que acreditem na mesma educação que você, que te alimentem a alma e te façam crescer.
Viu só? Agora que você sabe como usar a disciplina positiva em você, coloque em prática essas dicas. Assista aos nossos cursos online para conhecer mais sobre o universo infantil e aprender recursos de educação. E lembre-se da dica da Tamira Viana: cuidar de si é a melhor maneira de cuidar do outro, principalmente em se tratando de filhos.