Os erros são excelentes oportunidades de aprendizado. Mas, como lidar com os erros da criança? Saiba que isso pode ser determinante para o futuro dela
“Não ter medo de arriscar e errar é fundamental para ser criativo. Mas, como lidar com os erros da criança? Tenha em mente que isso pode ser determinante para o futuro dela”, argumenta nossa especialista Isa Minatel.
Ela é autora dos cursos Montessori em Casa e Temperamentos da Criança ao Adulto e, no primeiro, explica a visão da médica, pedagoga e educadora Maria Montessori (1870-1952) sobre o erro infantil.
Para Montessori, o erro faz parte do aprendizado mas, quando apontado pelo outro, humilha. Por outro lado, quando a criança, sozinha, se dá conta do próprio erro, o resultado é aperfeiçoamento, autoeducação e autocorreção.
Além disso, como explica Isa Minatel, ensina a criança a não esperar o outro dizer em quê ela precisa melhorar. Por exemplo, se você observou que seu filho colocou os sapatos trocados, convide-o para ir até o espelho e verificar se está tudo certo. Acima de tudo, deixe que ele mesmo perceba o próprio erro.
Seres humanos têm medo de errar
Para nossa especialista Elisama Santos, autora do curso Educando com Disciplina Positiva Educando com Disciplina Positiva, o ser humano, certamente, tem medo de errar. Ou seja, nossa visão é de que os erros são somente falta de atenção e cuidado e devem ser repelidos com veemência para que não se repitam.
“Como você se sente quando erra? Que palavras utiliza na sua conversa interna? Elas te empoderam e te fazem acreditar que é capaz de agir de maneira diferente? Ou, ao contrário, te ofendem e deprimem, passando a sensação de que é incapaz de melhorar? É dessa forma que fala com seu filho? A educação tradicional estimula a culpa e a vergonha como motivadores, mas nós sabemos os efeitos que elas causam em nós”.
Não obrigue a criança a pedir desculpas
Um estudo feito pela Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, revelou que crianças obrigadas a pedir desculpas o fazem por interesse próprio, como, por exemplo, evitar a punição. E não porque estão verdadeiramente arrependidas ou preocupadas com “a vítima”.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores estudaram as reações de crianças de 4 a 9 anos. Em resumo, eles queriam saber se elas eram capazes de distinguir três tipos de desculpas: as espontâneas; as solicitadas pelos adultos (mas, de bom grado); e as coagidas. Como resultado, concluíram que as desculpas forçadas não foram vistas como eficazes.
Crianças se sentem pior com as desculpas coagidas
Embora todas as crianças acreditem que os transgressores se sentiram piores após o pedido de desculpas, as de 7 a 9 anos responderam que aqueles que foram coagidos o fizeram por interesse próprio. Ou seja, queriam evitar uma punição.
Por outro lado, crianças de todas as idades notaram que as vítimas passaram a se sentir melhor depois de receber um pedido de desculpas voluntário. No entanto, perceberam que o receptor do pedido de desculpas forçado se sentia pior do que os que recebiam as desculpas voluntárias.
Por isso, para os pesquisadores, o melhor é que você ensine seu filho a ter empatia, a entender o motivo que fez com que o outro se sentisse mal. Porém, se ele não entender naquele momento, vale dar um tempo e conversar depois.
A empatia nas crianças
Mas, e quando meu filho vai ter empatia pelo outro? Em primeiro lugar, nossa especialista Tamira Viana, autora do novo curso Entendendo o Comportamento da Criança, explica que esse processo começa por volta dos 2 anos e só termina após os 20.
“As crianças não nascem com essa habilidade totalmente desenvolvida. Isso acontece por volta dos 2 anos de idade, mas a consciência de que o outro tem histórias e sentimentos próprios se desenvolve aos 6, 7 anos e só termina após os 20. Ou seja, até os 5, 6 anos, a criança não consegue perceber se o que fizeram foi legal e que precisa se retratar”.
Por isso, Tamira também corrobora o resultado da pesquisa e diz que não se deve obrigar a criança a pedir desculpas. “Não faz sentido falar com seu filho para pedir desculpas ou castigá-lo se isso não partir dele. Além disso, a punição só vai gerar sentimentos de injustiça e rebeldia”, alerta.
Sendo assim, o melhor é conversar, é tentar fazer com que a criança entenda o que fez. Contudo, se for preciso, dê um tempo para ela se acalmar. “Abaixe até a altura do seu filho, olhe nos olhos e diz que entende que ele estava com raiva, por exemplo, mas explique que empurrar machuca. Pergunte o que ele pode fazer para reparar a situação e dê alternativas: pedir desculpas, dar um abraço…”, sugere.
E continua: “Se ainda assim a criança não quiser se desculpar, peça você mesmo as desculpas e diga que vai conversar com seu filho depois. E converse! Acima de tudo, os erros são ótimas oportunidades de aprendizado. Também é muito importante dar o exemplo em casa e pedir desculpas quando fizer algo errado com a criança”.
Como agir quando a criança erra
Quer mais dicas de como agir quando a sua criança erra? Então, veja o que diz a Elisama Santos:
1. Em primeiro lugar, não enxergue as ações do seu filho com base nas suas intenções: disponha-se a descobrir. Tenha em mente que a criança não tem a sua experiência de vida;
2. Diga: “Me conte o que aconteceu”, em vez de julgar e ofender;
3. Acolha a intenção e ofereça uma nova forma de lidar com ela, de maneira respeitosa. Em suma, foque em solução, não em punição;
4. Se não está em condições emocionais de falar de maneira respeitosa, então seja honesto e deixe a conversa para depois;
5. Lembre-se de que a forma como você lida com os erros do seu filho é, provavelmente, a forma como ele lidará com os próprios erros no futuro.
Método de Resolução de Problemas
Já ouviu falar no Método de Resolução de Problemas? Nossa especialista Elisama Santos explica que essa ferramenta ajuda a criança a pensar sobre os problemas e como resolvê-los. Uma boa dica é escrever a solução, mesmo que seu filho ainda não saiba ler:
1. Chame a sua criança e diga a ela que vocês precisam resolver o problema (por exemplo, o ataque de raiva que a fez quebrar um objeto);
2. Comece citando os sentimentos dela: “eu sei que você fica nervosa às vezes. Entendo que, quando a raiva vem, perdemos o controle”. Isso já fará com que você prenda a atenção;
3. Resuma o ponto de vista da criança: “eu sei que você gostaria de brincar mais, que é legal brincar e que pode ser chato ter de parar a brincadeira, mas…” ou “sei que é difícil controlar a raiva”;
4. Exponha os seus sentimentos e necessidades: fale o seu ponto de vista, como você se sente quando ela fica nervosa, com raiva ou, ainda, quando não quer cumprir os combinados;
5. Fale o que você precisa: “preciso que você cumpra o horário”, ou “preciso que, em vez de agir assim, você fale o que quer”;
6. Convide a criança a pensar com você: peça a ela ideias sobre como resolver esse problema (“Você empurrou o amiguinho. Mas, o que pode fazer agora?”). Esse passo tira o adulto do pedestal e o coloca ao lado da criança;
7. Anote todas as ideias sem avaliá-las: não diga que a ideia de seu filho é ruim, pois pode fazer com que ele pare de colaborar;
8. Juntos, decidam quais ideias vocês gostam e quais vocês não gostam: eliminem as que desagradam e cheguem a um consenso;
9. Se necessário, marque nova reunião para verificar o andamento do acordo.
Assim, você está incentivando seu filho a fazer isso em sua vida, a solucionar os problemas, a lidar com os erros, em vez de procurar culpados, em vez de julgar os outros. O foco aqui não está em quem fez, mas na solução.
Ensine a criança antes de fazer
Muitas vezes, nós, adultos, nos esquecemos de que as crianças são seres que acabaram de chegar ao mundo. Então, nos equivocamos ao acreditar que elas sabem fazer as coisas mais simples sem que precisemos ensinar ou, ao contrário, que precisamos fazer tudo por elas. Não é bem assim!
Por exemplo, lá no começo do texto mencionamos a situação em que a criança coloca o sapato no pé errado. Isso acontece com frequência, mas será que você a chamou, antes da primeira vez, para mostrar o passo a passo? Para ensinar como ela pode ver, por exemplo, se está calçando o sapato no pé certo?
Portanto, essa é outra dica: ensine antes de começar. E se, mesmo assim, a criança fizer algo errado, pergunte a ela o que achou. Peça que compare com a forma correta de fazer e deixe que ela mesma se corrija. Se para ela o resultado foi bom, permita que pense dessa forma e ensine o correto antes de tentar novamente.
Da mesma forma, oriente seu filho nas tarefas de casa. Ou seja, se ele escreveu os números de 1 a 10 e esqueceu um deles, peça que faça a contagem e descubra o próprio erro. Lembre-se que não devemos invalidar o que a criança fez, pois a correção humilha, entristece, desmotiva!
Também é importante dar oportunidades para que seu filho exerça a autonomia. Por isso, evite fazer as coisas por ele, por acreditar que ainda não tem capacidade. Prefira, como falamos acima, mostrar como se faz e, então, deixar que experimente.
Aposte na compaixão
Além disso, para finalizar, como sugere a Elisama Santos, a compaixão muda a vida.
“Que tal romper com os ciclos de autopunição e, portanto, ensinar para as nossas crianças que erros fazem parte da vida? O que acha de incentivá-las a refletir sobre o que aprenderam e sentiram diante das próprias atitudes? E por que não incentivar a autorreflexão e o autocuidado, em vez de aprisioná-las em sofrimento? Acima de tudo, erros são parte importante do aprendizado”, pondera.
E conclui: “O segredo é entender a mensagem que cada falha nos passa. É, certamente, absorver o que nos ensinam sobre nós e sobre a vida. Principalmente, porque a nossa fala vira a conversa interna das crianças, assim como a dos adultos que te cercaram contribuíram para a formação da sua. Com que conversa interna você tem presenteado os seus filhos?”.