Você sabia que a criança autônoma apresenta melhora no seu desenvolvimento cognitivo? Veja como incentivar a autonomia na criança
Você sabia que a criança autônoma apresenta uma melhora no seu desenvolvimento cognitivo? Sim! Uma pesquisa de 2015 comprovou isso. E estudiosos dos mais antigos aos atuais, como Maria Montessori e Jean Piaget, apontam outros tantos benefícios.. Quer saber como incentivar a autonomia?
Antes, porém, vamos começar falando sobre o que é autonomia. É a capacidade de conduzir a própria vida levando em conta regras, valores, perspectiva pessoal e também o outro. E, ao contrário do que muitos pensam, é possível e é recomendável que ela seja incentivada desde cedo. Ou seja, bebês precisam ganhar independência progressiva para realizar ações do dia a dia. O desenvolvimento da identidade e da autonomia dos pequenos não ocorre de maneira adequada se não for estimulado.
A pesquisa
No estudo divulgado em 2015, realizado pela Universidade de Montreal, no Canadá, foram acompanhadas 78 mães e seus filhos. Essas crianças foram avaliadas aos 15 meses e, depois, aos três anos. Primeiro, os pesquisadores convocaram as mães para ajudar seus pequenos a realizar uma tarefa considerada difícil. A duração era de 10 minutos.
Tudo foi registrado em vídeo e os cientistas analisaram como essas mulheres se portavam durante a tarefa. Por exemplo, se encorajavam as crianças, se tinham uma postura mais flexível e se respeitavam o ritmo e as dificuldades de cada um. E, quando esses meninos e meninas completaram três anos, foram propostos jogos adaptados para mensurar a memória e a capacidade infantil de trabalhar vários conceitos cognitivos de uma só vez.
O resultado mostrou que as crianças que se saíram melhor foram aquelas cujas mães incentivaram e preferiram instruir seus filhos, em vez de completar os desafios para eles. Com isso, foi possível mapear benefícios significativos na função executiva, considerada um dos pilares da cognição, na capacidade de resolver problemas, no raciocínio, na flexibilidade, na memória e no planejamento para realizar funções.
Jean Piaget
Um dos principais pensadores do século XX, Jean Piaget (1896-1980), biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, afirmou que o desenvolvimento humano ocorre de maneira contínua e progressiva, basicamente em quatro etapas: anomia (comportamento instintivo, sem “lei”), heteronomia (quando a lei é imposta pelo outro), socionomia (quando a lei vem do convívio) e autonomia (lei própria).
Para entender melhor, pense em um bebê. Ao nascer, ele é completamente dependente e age por instinto, ou seja, procura o prazer e foge da dor. É a anomia. Depois, ele passa para a segunda etapa, que é a heteronomia, aquela em que a criança obedece às ordens para receber uma recompensa ou evitar um castigo.
Na terceira etapa ocorre a socionomia, que é quando os critérios morais vão se afirmando na criança, por meio de suas relações com as outras crianças. Com isso, começam a ser interiorizadas as noções de responsabilidade, obrigação, justiça e respeito. E, também, de empatia. Elas agem buscando a aprovação ou evitando a reprovação alheia.
Por fim, a quarta etapa é a da autonomia, aquela em que a criança já internalizou as normas morais e passa, então, a se comportar de acordo com elas. Essa é considerada a etapa mais elevada do comportamento moral. Mas, é bom ficar atento, pois o próprio Piaget alertou que se as estruturas mentais não forem desenvolvidas, ocorre a fixação em alguma etapa. Sendo assim, podem existir adultos na anomia, por exemplo, cujos comportamentos revelam falta de responsabilidade e ideal moral.
Maria Montessori
Na filosofia Montessori, desenvolvida pela médica italiana Maria Montessori (1870-1952), a autonomia é um dos pilares. Em seu legado, ela reforça que quando a criança é autônoma, quando não precisa da ajuda de um adulto, ela pode assumir responsabilidades, tomar decisões e sentir-se mais confiante e independente.
“O primeiro instinto da criança é agir sozinha, sem a ajuda de outrem, e o seu primeiro ato consciente de independência é defender-se dos que procuram ajudá-la”, disse Montessori, que costumava alertar que é o adulto o principal obstáculo ao desenvolvimento da criança. Para ela, a busca pela autonomia e construção da própria personalidade está presente desde o nascimento, cabendo ao adulto oferecer as condições para seu desenvolvimento.
E foi justamente para auxiliar nesse desenvolvimento que Montessori deixou um legado importante a respeito do erro. Sim, porque a médica acreditava ser necessário confiarmos na criança e permitir, por exemplo, que ela mesma perceba quando erra, sem que o adulto precise corrigir seu trabalho ou esforço. Por exemplo, se a criança escreveu os números de 1 a 10 e pulou um deles, em vez de você apontar o erro, peça que ela leia em voz alta. Certamente, ela chegará, sozinha, à resposta correta.
Disciplina Positiva
A autonomia também está presente na Disciplina Positiva, um conceito desenvolvido por Jane Nelsen, que escreveu a frase: “Crianças são beneficiadas ao terem várias oportunidades de se sentirem bem consigo mesmas quando contribuem significativamente em suas casas, escolas e comunidade”.
Na Disciplina Positiva, o adulto ajuda a criança a desenvolver as suas capacidades e a ser consciente delas, possibilitando que aprendam a confiar em si mesmos. Assim, passam a se tornar autônomos e capazes de aprender com os próprios erros. E o adulto não julga ou castiga, apenas possibilita que a criança arque com as consequências de suas escolhas e, na medida do possível, conserte as próprias falhas.
Até mesmo porque reconhece que castigos físicos e psicológicos não são recursos que favoreçam o desenvolvimento da autonomia, responsabilidade e independência nas crianças. Na Disciplina Positiva, os adultos agem para potencializar as habilidades em seus filhos para que sejam capazes de solucionar problemas por eles mesmos.
Benefícios
Além dos benefícios descobertos pela pesquisa da Universidade de Montreal, todos os grandes nomes que estudaram ou estudam sobre o universo infantil são unânimes ao afirmar que incentivar a autonomia é fundamental para a melhora na autoestima e na autoconfiança dos pequenos.
Mais recentemente, Tony Robbins, autor de bestsellers e um dos principais divulgadores da Programação Neurolinguística (PNL), disse, sobre o incentivo à autonomia, que nosso amor próprio está com frequência vinculado à capacidade de controlar o nosso ambiente.
Cada vez que incentiva a autonomia, você ensina a criança a pesar as próprias atitudes e as suas consequências. E tudo isso vai contribuir para o adulto que seu filho será. É por esse motivo que se torna necessário educar para que ele seja capaz de tomar as decisões mais acertadas, a fazer as melhores escolhas. Pense bem: a forma como está educando a sua criança está contribuindo para que ela se torne o adolescente, o adulto que você imagina? Ou melhor, o adulto que estará pronto para lidar, muitas vezes sozinho, com a própria vida?
Então, comece desde já a trabalhar a autonomia. Propiciar que a criança realize atividades sozinha, como se alimentar ou se vestir, vai ajudá-la a incorporar os hábitos e valores de onde vive. E o papel do adulto é estar ao lado, orientando no que for possível, assegurando que não haja riscos, incentivando a realização de tarefas e propondo novos desafios na medida em que ela vai conseguindo superar os anteriores. Além disso, deve se mostrar disponível para a criança, para dar aquela ajuda que for realmente necessária.
Em resumo, o papel do pai e da mãe, e de outros responsáveis pela educação, é guiar os pequenos para que saiam da anomia, do egocentrismo, passem pela heteronomia e, naturalmente, alcancem a autonomia moral e intelectual.
Entraves à autonomia
Em linhas gerais, é possível dizer que nos tornamos entraves à autonomia e ao desenvolvimento da criança quando a educação se dá em um ambiente de medo, de autoritarismo e de respeito unilateral. Nesses casos, ela tende à heteronomia, a agir apenas quando são obrigadas, coagidas, a precisar sempre do outro para guiar os seus caminhos. Será que é isso que você quer para seu filho?
Educar não é tarefa fácil e o objetivo deste artigo não é aumentar ainda mais o peso que pais e mães carregam, aumentar a sua culpa. Pelo contrário, queremos dizer que com informação é possível tornar a maternidade e paternidade mais leve, dividindo tarefas com as crianças e, ao mesmo tempo, contribuindo para a sua autonomia.
Mas, é bom que se saiba que nossos erros e acertos nesse período podem ser determinantes na formação do indivíduo, em seu sucesso ou fracasso. A infância é o melhor período para se desenvolver a imaginação e a criatividade, que estão intimamente ligadas à autonomia. E os adultos precisam aprender a lidar com esse período lúdico e de aprendizado. Principalmente porque a infância tem prazo de validade.
Como incentivar a autonomia na criança?
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De maneira resumida, podemos dizer que você pode incentivar a autonomia com atividades de cooperação, com um ambiente de respeito mútuo e de afetividade. Isso faz com que as crianças saiam do lugar de egoísmo e orgulho e sejam conduzidas gradativamente à autonomia, à cooperação, ao respeito e ao amor ao próximo.
Por exemplo, você pode começar valorizando, respeitando as opiniões e os quereres do seu filho, e atender a eles quando for possível. Veja, valorizar não quer dizer fazer todas as vontades, mas ter empatia. “Ah, eu também ia adorar ter isso!”. E, que tal negociar em vez de obrigar que faça algo? “Você precisa tomar banho. Quanto tempo falta para acabar o desenho?”. Tenha em mente que o seu papel não é escolher por ele e sim incentivar a autonomia, dando ferramentas necessárias para cuidar de si mesmo. Voltando à Montessori, cumprimos o nosso papel quando não somos mais necessários para nossos filhos.
Permita que a criança faça escolhas
Além disso, permita que a criança faça escolhas ao longo do dia, como definir a própria roupa, como cuidar de si mesma (escovar os dentes sozinha e você fazer os arremates no final) e que também participe das tarefas da casa. Vá aumentando os desafios. Mas, lembre-se de explicar que toda escolha gera uma consequência e tenha em mente que as crianças pequenas não sabem que uma escolha significa uma renúncia. Por isso, explique bem direitinho.
E, se ela se arrepender da escolha ou de algo que fez, ensine-a a lidar com a frustração. Explique que haverá outras oportunidades e peça que ela avalie o que aconteceu. Apenas evite criticar ou dizer aquela temida frase “Eu te avisei!”. Por outro lado, reforce as suas conquistas e esforços. Não estamos falando de recompensas materiais, mas de elogiar a dedicação e o esforço quando a criança conseguir fazer algo que estava tentando.
Outra dica: esteja perto do seu filho, dedique 30 minutos diários para brincar com ele sem que você dirija a brincadeira, sem que o corrija. Ele se tornará mais confiante e entenderá que essa hora também é um espaço para o diálogo. Conecte-se com a sua criança.