Vínculos familiares e ambientes saudáveis são essenciais na primeira infância para desenvolver características cerebrais presentes em adultos autônomos e com mais qualidade de vida
Mais de 150 estudos científicos provam que, apesar de não serem fatores únicos, vínculos familiares e ambientes saudáveis são essenciais na primeira infância – que vai até os 6 anos. Por quê? Para desenvolver características cerebrais presentes em adultos autônomos e com mais qualidade de vida. Hoje, já é possível dizer que a rigidez dos pais não é benéfica para os filhos, como se pensava.
Por exemplo, um estudo da Duke University, nos Estados Unidos, avaliou 482 pessoas na infância e, depois, quando elas completaram 38 anos. As que tinham um forte vínculo afetivo com a mãe demonstravam menor índice de ansiedade e outros distúrbios psicológicos quando adultas.
Também as universidades de Harvard e de Yale, no mesmo país, conduziram pesquisas nesse sentido. Elas constataram que as crianças privadas de afeto apresentam alterações no funcionamento de áreas cerebrais associadas ao processamento das emoções.
Ou seja, a ausência de carinho compromete a arquitetura cerebral e esses efeitos serão observados na idade adulta. Isso quer dizer que crianças sem vínculos afetivos sólidos apresentam uma tendência maior à agressividade e à depressão. Além de comportamentos agressivos e destrutivos.
Pais precisam ser rígidos?
Muitos pais e mães ainda trazem consigo o estilo de maternidade e paternidade com que foram criados. Acreditam que a rigidez fará com que os filhos cresçam bem-sucedidos, responsáveis, que se “darão bem na vida”.
Mas, não é bem assim! É claro que o adulto precisa ser a autoridade em casa, mas já se sabe que o excesso de rigidez é prejudicial. Foi o que constataram pesquisadores da Universidade de Kobe, no Japão. Eles fizeram um estudo sobre como o estilo dos pais pode influenciar o futuro da criança.
E os resultados mostraram que bons níveis acadêmicos e um salário acima da média nem sempre são sinônimos de uma vida feliz e satisfatória. Foi observado que tanto os filhos de pais rígidos quanto os de pais apoiadores alcançaram bons níveis acadêmicos e de renda. No entanto, enquanto os primeiros reportaram altos níveis de felicidade, os outros apresentaram níveis mais baixos. E também mais estresse.
Durante o estudo, 5 mil homens e mulheres responderam a um questionário com questões sobre a vida familiar. E classificaram afirmações como: “meus pais confiam em mim” e “eu sentia como se minha família não tivesse interesse em mim”. A partir dessas respostas, os especialistas analisaram quatro pontos: (des)interesse, regras, confiança e independência. Também levaram em conta o “passar tempo junto com os pais” e “o sentimento de ser respondido por eles”.
O que gritos, castigos e agressões podem causar
Diversos estudos científicos já comprovaram: crianças que apanham têm mais problemas de comportamento. Essa foi a conclusão a que chegaram, por exemplo, pesquisadores das Universidades do Texas e da Virgínia, nos Estados Unidos. Em resumo, bater ensina a usar a agressão. E essa é apenas uma das consequências negativas.
A Luciane Mota, do nosso Curso Desenvolva seu Filho Brincando, também reforça a ideia de que crianças aprendem com o exemplo dos pais, neste áudio de um trecho do curso dela.
A neurociência explica que crianças agredidas pelos pais naturalizam a violência. Isso porque, quando pequenos, nosso cérebro não consegue vincular nada de negativo à própria mãe ou ao pai, por exemplo. E, dessa forma, crescemos acreditando que os comportamentos violentos são aceitáveis.
Outras consequências de uma educação baseada em punição física foram expostas no trabalho “Physical punishment of children: Lessons from 20 years of research”. O estudo, divulgado pela revista científica Canadian Medical Association Journal (CMAJ), em 2013, mostra a ineficácia desse método e também a possibilidade de causar depressão, ansiedade, melancolia e abusos de drogas.
Já o Center on the Developing Child, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, destacou que mesmo as crianças muito jovens podem ser afetadas por situações de estresse. E que a negligência pode ser, para a saúde e o desenvolvimento, uma ameaça tão grave quanto o abuso físico.
O que acontece no cérebro?
Nossa especialista Isa Minatel (@isa.minatel), dos cursos Montessori em Casa e Temperamentos da Criança ao Adulto, do MundoemCores.com, explica o que acontece no cérebro da sua criança quando ela ouve gritos, por exemplo.
“Quando usamos de castigos, ameaças e gritos, por exemplo, o cérebro da criança recebe sinais de perigo, de ameaça. Com isso, cortisol, o hormônio do estresse, e adrenalina são liberados. Como consequência, temos coração acelerado, aumento da pressão arterial e do açúcar no sangue. Seu filho registra essas recordações negativas, que se transformam em angústia, estresse e ansiedade. Além disso, o processo de aprendizado é interrompido, a criança para de crescer, de se desenvolver porque seu corpo precisa lidar com essa emergência”, alerta.
O afeto e o desenvolvimento infantil
Mesmo reconhecendo que o carinho por parte dos adultos é fundamental e influencia no temperamento da criança, um estudo feito pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal constatou que apenas 12% da população considera o afeto importante para o desenvolvimento infantil.
Como explica a pediatra Diane Cullinane – especialista em desenvolvimento e diretora executiva do Professional Child Development Associates, na Califórnia, Estados Unidos – existem muitos fatores que influenciam o desenvolvimento. Alguns deles são genéticos e outros estão relacionados à saúde da criança e à sua experiência com o mundo. Porém, ela destaca que ter uma relação amorosa com os pais é, provavelmente, o mais importante.
Foi o que comprovou uma pesquisa feita pela Universidade de Washington. Por meio de imagens do cérebro de 127 crianças em idade pré-escolar, observou-se que a interação entre mãe e filho, o tal amor materno, pode fazer dobrar de tamanho o hipocampo, uma região cerebral associada ao aprendizado, à memória e à regulação das emoções.
Isso ocorre porque há um período crucial em que o cérebro responde mais ativamente ao apoio materno, provavelmente por conta da maior plasticidade do órgão quando as crianças são mais novas. Ou seja, esse amor materno é ainda mais importante nos primeiros anos de vida.
O afeto ajuda no aprendizado
Carol Winner, autora dos nossos cursos online O Desenvolvimento Cerebral da Criança e O Verdadeiro Poder dos Pais, do MundoemCores.com, explica que como tudo no cérebro está interligado, quando há o bem estar emocional e social, as habilidades de aprendizado são desenvolvidas mais facilmente.
“Não é possível separar o aprendizado cognitivo do emocional. Criar sentimentos e emoções mais benéficos pode, além de gerar mais vínculo entre você e seu filho, melhorar a capacidade de aprendizado dele. Crianças felizes, aprendem mais. Crianças seguras aprendem mais. O vínculo emocional é extremamente importante”, explica Carol.
Como educar sem usar punições?
Mas, qual seria a alternativa para se educar uma criança? Cientistas envolvidos em pesquisas sobre a importância do afeto, sugerem o uso da disciplina positiva, que é a autoridade sem violência. Elisama Santos, autora do curso online Educando com Disciplina Positiva, do MundoemCores.com, dá dicas de como agir.
“Fuja da punição. Entenda, de uma vez por todas, que punição não educa. Tente ajudar, apresente ferramentas para que a criança lide com aquela situação de uma outra maneira. Mas, compreenda que existem atitudes que seu filho ainda não consegue controlar. Você pode expressar a sua desaprovação, mas sem julgar o caráter. Sendo assim, evite os rótulos. Depois, exponha o que você espera que a criança faça, ensine como ela pode se corrigir, reparar o erro”, orienta.
E mais: “Também é importante deixar que seu filho vivencie as consequências do próprio comportamento. Existem várias ferramentas que podemos utilizar na criação para fugir dos castigos e punições. Precisamos ter em mente que o que acontece na infância não fica restrito a esse período, impacta a vida toda. No curso Educando com Disciplina Positiva eu dou dicas e alternativas para pais e mães agirem com as suas crianças”.
Educação afetiva não é permissividade!
Elisama reforça que é possível educar nossos filhos com base no amor, no carinho, no respeito e no vínculo, sem que, para isso, precisemos ser permissivos. Afinal, há uma grande diferença entre autoritarismo e autoridade. Os pais podem, sim, manter a sua autoridade sem que seja necessário agir de maneira autoritária e/ou agressiva.
O segredo? Conexão! Veja algumas dicas: entenda as fases pelas quais a sua criança está passando, compreenda que nem sempre ela tem maturidade emocional para lidar com a situação, estude; invista no diálogo, sem sermões, ouvindo verdadeiramente seu filho; dedique um tempo exclusivo do seu dia para ele, brinque, deixe que a criança conduza a brincadeira; dê carinho; envolva seu filho na rotina da casa, cada um tem de se responsabilizar por manter o lar em ordem; permita que tome pequenas decisões envolvendo a si mesmo, incentive a autonomia.